Fazia meses que não viajávamos. A última vez foi uma volta a Curitiba para o Congresso Vegetariano. Então, decidimos ir para uma região do Brasil que ainda não conhecíamos, a centro-oeste, na cidade de Bonito em Mato Grosso do Sul, eleita o melhor destino de ecoturismo do Brasil. Ainda tivemos a companhia de um casal de amigos super especiais, pois a Gracielle é co-fundadora da União Libertária Animal junto com a Dani. Então o Vegetariando por Aí pisou em solo bonitense com reforços. rs
Bonito é um destino muito concorrido, por isso, planeje sua viagem com no mínimo 6 meses de antecedência. Nós fomos comprar as passagens antes, e quando tentávamos hotel e ingressos, quatro meses antes da viagem já estava tudo esgotado. Achar uma agência e um hotel com vagas foi quase um milagre. Outra informação importante é que por questões de preservação, o número de pessoas em cada passeio é limitado, e não se vende no local, só por meio das agências de turismo. Mas é tudo muito organizado. E há muitos hotéis que tem agência própria. Nós fomos pela Bonitour e correu tudo bem.
Mas o desafio desse destino não acabou por aí. Antes de ir, pesquisamos bastante e descobrimos que até a década de noventa, Bonito tinha como principal atividade a pecuária. Imagine veganos pisando lá! E por conta disso, é uma cidade basicamente constituída por latifúndios privados. O interessante é que ao descobrir o potencial turístico dentro das fazendas, os proprietários foram gradualmente dando mais espaço ao turismo, transformando as fazendas em Reservas Ambientais e reflorestando as áreas degradadas pela pecuária. Por isso, a maioria dos passeios turísticos em Bonito estão dentro de propriedades privadas.
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Pecuária = desmatamento e escravidão. 70% dos grãos alimentam a pecuária, não humanos. |
O QUE PASSAMOS LONGE
É claro que algumas das fazendas continuam dividindo suas atividades entre o turismo e a pecuária, mas como condição de irmos a Bonito, resolvemos pesquisar e encontrar as que por ventura, abandonaram tal atividade, se dedicando apenas ao turismo. Até porque, 60% do que se paga em cada passeio é repassado diretamente para o dono da propriedade, e não gostaríamos de pagar nada a um pecuarista, atividade que mais mata animais e degrada o meio ambiente.
Não boicotamos nenhuma cidade por ter atividade de exploração animal. Qual é isenta disso? Nós queremos justamente identificar e problematizar essa exploração, dar atenção a esses animais com um foco diferente do mostrado no turismo como romantizada, tirando-os da invisibilidade. Mas o principal, que é o tom do nosso blog, é mostrar que podemos aproveitar o melhor, fazendo escolhas éticas. E que a cidade tem potencial sem explorar animais. Precisamos ocupar espaços. Então descobrimos que ainda dividem suas atividades entre turismo e pecuária:
– Recanto Ecológico Rio da Prata, que é também a Fazenda Cabeceira do Rio da Prata e tem a flutuação na Lagoa Misteriosa. A Estância Mimosa é do mesmo grupo.
– Fazenda Boca da Onça, com o rapel na cachoeira boca da onça.
– Fazenda São Geraldo, que tem flutuação no Rio Sucuri.
Além disso, procriam animais silvestres em cativeiro ou domesticam animais soltos para que fiquem a disposição para turistas os manusearem e tirarem fotos:
– Projeto Jiboia: se traveste de projeto ambiental, procria cobras artificialmente para venda e as usa para diversão de turistas.
– Fazenda Rio do Peixe: apesar de terem parado com a pecuária, há diversas araras que eles domesticaram e que são manuseadas por turistas. Há quem fale até de corte de asas.
– Balneário do Sol: um verdadeiro horror, com diversos animais amarrados em árvores para os turistas fazerem o que bem entender.
– Cavalgada: nem pensar.
É triste ver que há pessoas que estão em meio a natureza para explorá-la e torná-la dependente, e que há turistas que escolhem um lugar de natureza exuberante para se divertir com animais confinados ou domesticados, usados como recursos. Muito paradoxal. A beleza de um animal está em sua liberdade, vivendo para suas próprias razões. Defendê-los não é criar outros artificialmente como animal doméstico, é preservar seu habitat e estimular que as pessoas os admirem em liberdade, não como propriedade. E abaixo há exemplos disso.
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OS PASSEIOS QUE FIZEMOS E QUE VOCÊ NÃO PODE DEIXAR DE FAZER TAMBÉM
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Bom, após levantar o que não iríamos compactuar, criamos o nosso roteiro de 3 dias inteiros (reserve os dias de viagem apenas para isso, já que após chegar no aeroporto de Campo Grande, a viagem por terra até Bonito é de 4 horas. Há aeroporto em Bonito, mas os vôos são bem caros e apenas 2 por semana). São basicamente 2 passeios por dia, já que geralmente são de meio período.
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– Gruta do Lago Azul: Lugar espetacular. Não tem mergulho, é para fazer a trilha gruta abaixo e contemplar a cor da água do lençol freático e as estalactites de calcário. O lugar foi tombado e agora é da União. É espetacular.
– Balneário Municipal: o passeio mais em conta. O interessante é que em domingos e feriados, só pode entrar moradores da cidade. Por ele passa o Rio Formoso, onde nadamos com peixes piraputangas lindos. Esse você pode comprar o ingresso direto no local, e dá pra ir de bicicleta alugada no centro. Na parte da manhã, vários miquinhos visitam o balneário, ficam comendo frutas pelas árvores e olhando curiosos para as pessoas. São lindos e super inteligentes.
– Buraco das Araras: é o mais longe de Bonito e se observa aves livres fazendo seus ninhos nessa cratera. Com o sucesso do Buraco das Araras, aos poucos as atividades de pecuária da Fazenda Alegria foram dando lugar para a organização turística, mais rentável e mais prazerosa para a família, que via seu lugar ser cada vez mais admirado e respeitado por pessoas de diversos lugares do Brasil e do mundo.
A trilha e a cratera por si só são um espetáculo que vale a visita. Ver os animais é algo espontâneo e inesperado, já que estão livres em seu habitat natural, sem nenhuma domesticação, o que torna o momento incrivelmente especial. As araras costumam passear quando o tempo está mais fresco. Nós fomos a tardinha e tivemos a sorte de ver um grupo em uma árvore, e em um momento revoaram juntas, grasnando e dando voltas até irem onde bem entenderam e sumiram pelas árvores. Foi emocionante.
– Bike Tour Lobo Guará: foram 18 km de muita diversão e contemplação, pedalando por estradas, trilhas e chegando no rio formosinho para um mergulho. Antes, plantamos mudas de árvores em uma área onde está sendo reflorestada. O projeto Lobo Guará já plantou mais de 2 mil mudas de árvores nativas do cerrado e mata atlântica. O Márcio, idealizador desse projeto, também faz campanha por atitudes e politicas públicas para proteger animais nativos da região que constantemente morrem atropelados nas rodovias da região, como tamanduás e antas. Diminuição da velocidade e passagens subterrâneas seriam medidas que salvariam muitos animais dessa chacina.
– Boia Cross: Fica no hotel Cabanas, que é próximo ao Balneário Municipal. Preferimos o boia cross ao bote, por esse parecer mais divertido.
– Centro: a principal rua de Bonito é a Coronel Pilad Rebuá. É nela onde tudo se encontra, com a pequena feira dos artesãos, bikes para aluguel, agências, lojas, restaurantes, etc. Os demais estão em ruas transversais a esta.
Nós tivemos a oportunidade de ver muitos animais vivendo naturalmente em liberdade no seu próprio habitat natural, longe de qualquer domesticação. O legal disso é que ocorre de forma totalmente inesperada e espontânea, tornando o momento simplesmente mágico, vendo animais cheios de si. Aranhas, tucanos, araras, ubus, jacarés, jiboia, micos, peixes, etc.
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COMO FOI PARA COMER?
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Bonito não possui nenhum restaurante vegetariano, mas há lugares com opções marcadas no cardápio, geralmente ovolactovegetariana, mas que algumas dá pra mudar ingredientes. E outros restaurantes com buffet bem variado, possibilitando um prato muito rico. Nós conseguimos nos alimentar muito bem em Bonito.
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– Restaurante Arco Íris: Fica na rua principal do centro, próximo a praça e ao Oca. Abre para almoço e jantar. É buffet livre a R$21,00. A comida é simples e muito gostosa. Dá pra fazer um prato bem bonito, gostoso e saciável com aquela cara de comida caseira. Verifique se o macarrão é de sêmola.
– Restaurante da Vovó: o dono é muito simpático. Toda a equipe foi muito atenciosa. Aliás, parece que todos em Bonito são super gentis e educados. A comida é espetacular e feita em fogão a lenha e panelas de barro. Com uma variedade maravilhosa desde a parte da salada aos pratos quentes com legumes refogados. Então mesmo não tendo um “prato principal” vegetariano/vegano, isso não fez falta alguma. Jantamos lá um noite e no dia seguinte voltamos para o almoço. Fica na Rua Sen Filinto Muller, próximo ao Palácio dos Sorvetes.
– Balneário Municipal: Lá dentro tem 3 restaurantes. No dia que visitamos o balneário, almoçamos no do meio pedindo porções: mandioca, batata frita, arroz, feijão e salada. Ah, e suco de guavira, uma fruta típica do cerrado, deliciosa!
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Kiosque Trattoria: restaurante italiano e natural que inaugurou recentemente na Villa Rebuá, localizada na rua principal do centro de Bonito. Tem muitas opções vegetarianas no cardápio e algumas veganas. Você escolhe uma massa (tem que verificar qual não tem ovos), o que acompanha e um molho. Nas opções de proteína, tem almôndegas de linhaça e castanha do pará. Para sobremesa tem sorvets. O lugar é muito charmoso, tranquilo e perfeito para tomar um
vinho. Aproximadamente R$30,00 por pessoa.
– Taboa Bar: No cardápio do Taboa, que é um bar com música ao vivo e o mais badalado de Bonito, tem hamburguer vegetariano sem ovo na composição. Ele vem acompanhado de arroz e legumes na manteiga, que basta pedir para trocar por azeite no preparo. É muito gostoso. Custa R$25,00. O Taboa também produz cachaça, mas ela é feita com mel.
– Oca Restaurante: Opção também para de noite, é o segundo mais popular de Bonito. Tem muitas opções ovolactovegetarianas no cardápio, como mandioca recheada, hamburguer e tapiocas. O que conseguimos comer foi a tapioca de pizza sem o queijo (e fica bem gostosa) e a batata frita. Deixamos de sugestão na página deles a troca no queijo animal por queijo de mandioca ou creme de milho.
– Palácio dos Sorvetes: Com mais de 70 sabores, possui uns 15 sem lactose. Jamelão, graviola, cajamanga, genipapo, umbu, amora, acerola, limão,… Os melhores são tangerina e cupuaçu. Cada pote que fizemos, com várias bolas de cada sabor, deu R$11,00 e pouco.
– Delícias do Cerrado: é uma sorveteria que não tem opções sem lactose nos sorvetes de pote. Mas lendo os ingredientes, você pode encontrar alguns picolés sem leite, e provar alguns de frutas típicas bem diferentes. O de murici é muito gostoso.
– Feira do artesão: Além de lembrancinhas, tem a venda cachaça, licor e doces. Fica na rua principal do centro.
Lindo ver como as coisas podem mudar, né? Como animais podem ser admirados e protegidos em liberdade no seu próprio habitat natural. Como famílias podem mudar sua atividade econômica de exploratória para ambiental, e uma cidade inteira seguindo esse caminho. Foi um destino que nos lembrou muito a campanha
Quebre Gaiolas e Plante Árvores da União Libertária Animal (ULA). Cada iniciativa pessoal é importante e inspira outras. E você? Tem mais dicas pra gente? Compartilha nos comentários e confira os destinos passados. Até o próximo!
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